Estou escondida de mim e não faço movimentos abruptos agora.
Ainda é madrugada e não há nada a fazer.
Ninguém espera nada de mim, nem eu mesma.
Experimento minha pele num tempo-nada.
Estou macia no silêncio.
Ainda não chegaram as notícias, ainda não começou a espera, ainda não abri o extrato, ainda não olhei no espelho, ainda não anotei as tarefas, ainda nada, nada.
Não estou aqui, percebe? Estou brincando de esconde-esconde comigo.
Eu sei que me escondo mal, mas pode fingir um pouco?
Os pés pra fora da coberta, eu sei, mas pode fingir que não viu?
Tenho mais cinco minutos e resolvo convidar você para meu tempo-nada.
- Você pode vir aqui e me achar?
- Posso...Achei!
Eu gargalho das nossas bobagens.
Temos três minutos agora.
- Você percebeu como fico macia no silêncio? - digo baixinho pra não despertar o dia.
Silêncio e cobertor e respiração.
Acordamos:
existimos no tempo-nada.
agora é só administrar o tempo-todo.
…
Inspirado na prática do Grupo de Escrita Matinal (que está com inscrições abertas)