O post anterior a esse (Eu vesti estrela) bateu recorde. Inspirada (e desesperada) pelo domingo de eleições, consegui elaborar um texto lúcido e bem articulado sobre o que estava sentindo naquele momento. Recorde de leituras, de inscrições e de compartilhamentos.
Esse é o post que vem em seguida. O que vai cativar ou desanimar os novos leitores. O que vai afirmar ou afrouxar a ideia de que escrevo bem. Luzes, a escritora sentou no computador! Uau, a escritora! Um gole de café. Minha genialidade a mil. Dedos digitam rapidamente palavras e combinações e…
(mentira. estou jogando candy crush)
Esses são delírios da minha mente e é sobre isso que quero falar, pois não tenho mais nada a dizer.
Tudo o que está escrito acima é fruto de uma tremenda pretensão. Diria arrongância se não tivesse aprendido, a duras penas, a ser gentil comigo. Ali em cima está um dos pilares da paralisia: a demasiada autoimportância. Atribuo aos outros uma dinâmica cheia de regras e desafios que vão ou não me dar um troféu. O outro é imaginário, o jogo não existe, as regras foram criadas por mim e o troféu é uma ilusão. Nada do que eu escreva aqui me definirá. E nem definirá meu futuro. Isso porque quem me lê está muito menos preocupado comigo do que eu mesma. E saber disso é libertador.
No fundo do discurso de uma preocupação excessiva com o outro está uma ideia torta de protagonismo delirante.
Liana, querida, disse uma vez uma terapeuta, ninguém está ligando tanto assim para você.
Na vertente (insuportável) do autoamor platônico, da autossuficiência arrogante e do protagonismo em palcos sem plateia, navegamos desorientadamente sem perceber as armadilhas desse oceano.
amar-me não é achar que sou perfeita e que faço tudo lindamente e que todas as minhas partes, pedaços são lindos. esse seria um autoamor adolescente, fantasia que tem data para acabar. A adolescência precisa acabar. E, pasmem!, está na moda ser adolescente. Como se fosse uma roupa ou um acessório essa mente apaixonada por si, delirante de um reinado e súditos igualmente apaixonados.
Você é protagonista da sua vida, dizem. Alerta polêmica: não gosto nadinha desse termo e nem desse conceito. Protagonismo pressupõe, inevitavelmente, uma hierarquia. Tal hierarquia não está quase nunca nas nossas mãos. Do protagonismo à meritocracia é um passinho. Quer ver? Pois bem, pense num filme e veja que, para que o protagonista exista, é preciso que exista um grande elenco de apoio, muitos figurantes e muitas pessoas por trás das câmeras, fazendo aquilo acontecer, iluminando a cena para o protagonista. Se a epidemia de protagonistas pega, quem é o público? quem topa fazer a figuração? Por isso é delirante. Só pode ser delirante. inventa-se público (ou fãs), figurantes, elenco de apoio. inventa-se, pois, na vida real, cada um está também delirando seu protagonismo. Ou delirante ou meritocrático. Prefiro acreditar que é delirante.
O texto que escrevo hoje é ruim. Mas precisa ser escrito porque tenho um compromisso com vocês. Uma vez por semana você recebe o texto. Esse compromisso que tenho com você que me lê, deve ser maior do que o que tenho com o meu delírio de protagonista. Coloco-me aqui como figurante. Esse é um texto ruim. Como muitos que vão passar hoje pela sua tela. Amanhã talvez tenha algo melhor a lhe oferecer.
Confio, escrevo e deixo as palavras encontrarem pares e ecos.
Talvez faça algum sentido, talvez não.
Não sei…sorte que não sou protagonista.
Muita responsabilidade ficar toda hora fazendo nome pra entrar no cartaz.
InDica
Meu próprio livro, porque esqueci de fazer isso no post que bombou (ai…).
Sede de me beber inteira é massa e tem sido uma fonte de carinho! Se você já tem, avalia lá na Amazon? Esses dias chegou lá uma hater e minha nota foi pro pé. Achei chato, não vou mentir…
A série INCRÍVEL da #HboMax, A Casa do Dragão. Mas ó: esquema Game of Thrones (que eu amo) - violência extrema e explícita, muito sexo sacanagem, moral a la idade média. Venha com estômago.
Meu colega de editora, o psicanalista Alexandre Patrício, tem um podcast babado que se chama Psicanálise de Boteco (eu ouço pelo spotify) e lançou recentemente seu livro pela editora Planeta. O livro, com o mesmo nome do podcast, tá na cabeceira! Psicanálise de Boteco, Ed. Planeta.