Esse é um projeto novo. E para projetos novos, é preciso pensar nome. Você já teve que dar nome a algo? Ou a alguém? É uma escolha tão difícil, tão importante, tão impactante no sucesso daquilo ou daquele nomeado por você. É brincar de contornar o vazio, erguer muros, dizer que “daqui para frente, dessa linha em diante, chame esse ser de…”
Se você não conhece de outros carnavais, deixa eu dizer que sou Liana, escrevo, sou atriz e dramática. As coisas são geralmente de vida e morte e conviver comigo e tentar acompanhar meus movimentos afetivos pode dar vertigem. Bom, dito isso, talvez você nem ache que dar nome às coisas tenha essa importância toda. Eu acho. Quando escolhi o nome da minha filha pensei em todas as profissões possíveis e se o nome combinava com uma neurocientista ou uma artesã; uma engenheira ou psicóloga; uma astronauta ou apresentadora de TV. Pensei nas rimas e nos trocadilhos da escola; pensei nos apelidos; pensei num nome não tão comum, mas não tão diferente para que ela não tivesse que soletrar toda vez. O nome dela é lindo, perfeito e me custou alguns neurônios fritos. Aqui gostaria de acrescentar uma característica à minha apresentação: sou Liana, escrevo, sou atriz, dramática e controladora.
Dar nome às coisas tem um quê a mais para nós, controladores. É o exercício do controle em sua mais pura essência. Nomear, dar forma, dar som, gerar código.
Bom, esse projeto é novo, mas confesso que o nome é velho. Esse nome, Vida nos cantinhos, é de um livro que eu escrevi todo à mão, recortei, colei, rabisquei, passei batom, enfim, um livro-pandemia-cortei franja-escrevi livro-assinei zoom. Eu adoro esse livro, mas ele está no cantinho da minha gaveta. Eu digo que é frustrante demais você produzir algo que realmente gosta e ter que deixar pra lá. Guardar junto com coisas esquecidas algo que você nunca esqueceu, é um dorzinha bem suave, mas constante. Eu vivo pensando nesse livro. Largado à própria sorte, ao lado de uma fita métrica verde, meu livro, Vida nos cantinhos.
Aproveitei o nome, portanto. Como uma pessoa despreparada para finais, dei o mesmo nome ao novo começo. Uma vez pensei, ao ver meu peixinho morto no aquário, que poderia comprar um exatamente igual, dar a ele o mesmo nome e fingir que a morte não tinha acontecido. Tinha 7 anos. Ainda não aprendi a lidar com finais, mas aprendi que não é fingindo que eles não existem a melhor opção. Ufa! Dei um passo.
Comecei falando de nome, de começo e estou falando de morte, de fim. São assim as conversas, afinal. Elas derivam meio sob controle meio sob intuição, meio GPS meio bússola de estrelas apontando o norte.
Quero que seja assim nosso encontro nesse novo canal que começa hoje! Agora! Já começou.
Pronto.
Nasceu Vida nos cantinhos.
Essa é a capa do livro que está na minha gaveta, mas (ssshhiu) é segredo.
Que lindo, texto, Liana! Sua escrita é leve e apaixonante. Parabéns pelo novo projeto. Adorei o nome e fiquei curiosa para saber o nome da sua filha rsrs. Já vou me inscrever!